BigMax Posted September 18, 2021 Posted September 18, 2021 Agenor Agenor, mascate de profissão e carnavalesco por paixão, vestia-se de preto, magro, alto e tinha um apelido que não gostava. Fez vários carnavais populares aos quais denominavam de "Carnaval dos Pobres" e nesses eventos Agenor se transformava em Pierrô, vestia-se na fantasia de confetes e serpentinas voando nas asas da ilusão. Lembro-me de ter visto a passagem de um bloco nas ruas centrais antes de dirigirem-se ao barracão onde se realizavam os bailes carnavalescos. Esse foi personagem de várias estórias. Relato algumas que presenciei e outras que ouvi. Agenor jogava bocha como ninguém, seu único defeito era abusar das jogadas de efeito como atirar quando podia jogar ponto etc... Um dia apareceu em Fartura, no Inferninho, um rapaz sem os dois braços, jogava com os pés, desafiando-o para uma partida de bochas valendo dinheiro. Algumas pessoas presentes patrocinaram o Agenor no desafio, apenas para ver o cara jogar com os pés. Os dois eram bons e a partida caminhava para o seu final muito equilibrado. Um dava show jogando com os pés e Agenor dava show com seus tiros "de seca". Os patrocinadores do Agenor o chamaram ao lado e pediram para que perdesse a partida, pois o intuito não era ganharem a aposta e sim assistirem ao show. Agenor não queria perder e jogava tudo que sabia e mais um pouco para vencer e eis que na última jogada eram necessários 4 pontos para o Agenor vencer e na cancha já estavam 2 pontos garantidos, restando a última bola, ou seja, a partida poderia terminar com uma jogada a ponto e ele venceria a partida, mas Agenor queria dar show e se preparou para um tiro "de seca" desnecessário. Aprumou, correu e atirou... Acertou a bocha como queria, porém a bocha acertou o balim e deixou o adversário com 6 pontos e este venceu a partida. Agenor tremia e suava como ninguém sentindo a derrota tanto quanto os corintianos quando perdem para o Palmeiras e principalmente por ouvir que perdeu para um cara que jogava com os pés. Essa estória também ocorreu no "Inferninho" quando funcionava onde hoje é a casa do Bicó. Agenor sentou à mesa para jogar pif-paf e como o dinheiro era curto só entrava na parada quando a mão era muito favorável. Lá pelas tantas saiu batendo em um "between", parada boa e o dinheiro já no fim, o pensamento do Agenor era bater aquela parada e sair da mesa, pois aquele dia o mar não estava para peixe. Estava batendo com o 7 de paus, só ele entre um 6 e 8 que durante as jogadas não foi possível encostar outro 6 ou 8. Alguém bateu e Agenor transtornado foi virando carta por carta do baralho restante até encontrar o "seu bate" e para a sua indignação eram as duas últimas cartas. Solicitou ao português que cuidava do bar do "Inferninho" um pão cortado ao meio e colocou os dois 7 de paus como recheio e comeu o lanche em três bocados. Agenor além do carnaval gostava da loteria esportiva. Passava horas a fio riscando cartelas, estudando os jogos e como era impossível registrar as apostas pela incerteza do resultado ou a falta de dinheiro ele fazia os jogos e deixava em algum bar as cartelas marcadas escondidas na prateleira para "ver o que dava" na segunda-feira. Para sacanear, alguns chegavam antes do Agenor e preenchiam uma cartela com o resultado e colocavam no meio das cartelas que ele conferia meticulosamente e mostrava contente para as pessoas comentando que se tivesse jogado teria feito treze pontos. Algumas vezes apareciam duas cartelas vencedoras ( mas não registradas ) com os treze pontos o que sinalizava que ele era bom de palpite mesmo. Com o tempo Agenor começou a fazer bolões da Loteria Esportiva e houve um final de semana que no sábado teve 12 jogos e o bolão acertou os 12 ficando somente um jogo para domingo. Nesse bolão, um dos participantes ( Edgar ) ainda não havia pago sua cota e o Agenor falava que se o Edgar não pagasse antes do jogo estaria fora do bolo. Agenor se escondia do Edgar para que este não fizesse o pagamento, pois os treze pontos parecia favas contadas. Era uma brincadeira de gato e rato, Edgar procurando e Agenor se escondendo. Edgar pagou sua cota antes do jogo e o bolão completou os 13 pontos no domingo. O engraçado da estória foi que na segunda-feira foi apurado que houve milhares de acertadores e o premio de cada um foi menor que o valor pago pela cota. 1
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