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— Levado às pressas ao ortopedista aguardava ser chamado quando adentrou ao consultório uma senhora com o braço esquerdo engessado. Cumprimentou a todos e, após os procedimentos de praxe, sentou-se ao meu lado. Perguntei sobre seu estado de saúde. Explicou: na tentativa de limpar um armário caíra do banquinho. Por pouco não se ferira por inteiro. O resultado: um braço quebrado.

À descrição do fato ela acrescentou: “Sabe por que isso aconteceu? Perfeccionismo! Quis fazer as coisas de forma perfeita, na verdade, do meu jeito; não me dei conta de que o prejuízo poderia ser grande.” Parecia estar diante de uma pessoa sensata; ela expressara de forma clara e objetiva que as consequências sofridas foram ocasionadas pelo domínio de um forte traço de sua personalidade: o perfeccionismo. Sensatez é a capacidade de raciocinar, apreciar e julgar com clareza, entendimento, prudência e discernimento.

Continuou. “Onde já se viu alguém, na minha idade, ignorar que o peso dos anos sobre os ombros? Não sou mais uma menininha”. Senso de realidade é a capacidade de ver as coisas, de fato, como elas são. “Não me é mais possível fazer certas coisas, mas é muito difícil aceitar isso. Preciso aprender que, em virtude da idade e tantas outras coisas, tornei-me limitada. Preciso entender que limitação não é defeito”. Senso de descontinuidade é a capacidade de perceber e aceitar que as coisas mudam.

Silêncio… Brindou-me com uma gostosa gargalhada: “Mas é bom pra gente aprender não é mesmo? Criança que enfia o dedo no buraco da tomada só pode levar choque”. Apesar do desconforto, esbanjava senso de humor. A capacidade de brincar e rir de si mesmo ameniza o peso da dor. “Sabe, de tudo nesta vida, mesmo das coisas ruins a gente precisa tirar uma lição”. O senso de aprendizagem nos dá esta possibilidade: aprender sempre. Concluiu: “A vida continua! Devagar a gente chega lá com a graça de Deus e a companhia de pessoas que nos ajudam a ser, cada dia, melhor”. Esperança, confiança, alegria e fé, revelavam seu senso de continuidade, a capacidade de seguir adiante.

Chamada ao balcão soube que deveria fazer novos exames. Sorridente, despediu-se, seguiu seu caminho. Segundos depois, dei-me conta de o quanto havia ganhado e aprendido. A consulta me aliviaria as dores do corpo; aqueles poucos, mas intensos minutos de convivência e partilha já me haviam curado, um pouco mais, a mente, a alma, o coração e o espírito. Dirigindo-me à sala do médico, olhei para minha mão que insistia em doer, sorri e agradeci: obrigado por me haver trazido aqui. Pessoas de bom senso fazem toda diferença, para melhor! Cultivemos o bom senso!

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