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Em geral, associamos renuncia à perda. Quem renuncia a um cargo de destaque, uma honraria e cede seu lugar é causa de chacotas. Quem se dedica totalmente a uma causa é considerado digno de dó: “Coitado, você não se casou?”. “Nossa, Ele não tem filhos!”. “Como você consegue viver assim?” Até parece que todos os casados são felizes, todos os que têm filhos cumprem seus deveres e, os que vivem como a maioria, são realizados.

Desde muito cedo somos estimulados a sempre vencer, a não abrir mão de nada. Apegamo-nos a pensamentos, sentimentos, comportamentos, opiniões e tantas coisas, sem ao menos colocá-las sob a lupa da lógica e do bom senso. Viciados, maníacos, neuróticos, fundamentalistas, egoístas, egocêntricos e tantos, aparentemente normais, possuem, como traço comum, a incapacidade de renunciar. Quem contraria suas vontades, torna-se inimigo; quando suas previsões e projetos fracassam, revoltam-se; quando perdem, deprimem.

Na contramão do senso comum, a sabedoria, a prudência e a fé ensinam que renunciar é ganhar. “Qual o rei que ao sair para guerrear não senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Vendo que não pode, enquanto o outro ainda está longe, envia mensageiros para negociar as condições de paz”. Tantas vezes, movidos pelo orgulho, vaidade e ambição, partimos para a batalha, sem as mínimas condições de vencê-la.

“Quem não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo”. A radicalidade de Jesus faz sentido. Impossível ser feliz amarrado a tantas coisas, carga que, com o passar do tempo, tem o peso redobrado. Jesus não exige que renunciemos ao que somos, mas sim, ao que temos, Ele não exige que abramos mão de nossa identidade, nossa dignidade e do que trazemos dentro de nós. O que necessita ser mudado, nesse sentido, o será, ao longo do caminho. Ele não exige que desprezemos as pessoas, a família, os amigos. Muito pelo contrário, ensina-nos a estabelecer um nível de relacionamento que ultrapasse o campo sensorial (ver, ouvir, falar, tocar), para permanecer com elas, as pessoas, independentemente de distância e tempo.

Renunciar é ganhar, quando colocamos o verdadeiro amor acima de tudo; quando abrimos mão de nossas manhas e manias para manter as pessoas conosco e estar com elas; quando, mesmo aparentemente perdendo, experimentamos o insubstituível sabor da vitória, manifesto na certeza de que, fizemos o que deveríamos ter feito. Exercitar a renuncia, sob este aspecto, é um desafio constante. Renunciemos para ganhar, de verdade.

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