Mel
Mel, meu doce favo de mel, boas lembranças de um tempo passado que não volta mais. Ficaram em minha memória as boas lembranças do velho tempo e belos dias.
Nos conhecemos em uma noite de verão na sala de espera do Cine Belas Artes, na Consolação, em Sampa. Mel, jovem universitária, estilo clássico, aparência simples com seus óculos que passavam um ar de intelectualidade que harmonizavam com outras pessoas do ambiente. Eu totalmente fora de contexto, podia se dizer que era um bicho estranho naquela sala. Cruzamos o olhar por algumas vezes e do nada já estava entabulando conversa com a moça. Papo vai, papo vem e logo percebemos que éramos completamente diferentes um do outro. Só tínhamos em comum o gosto por cinema e livros, mas a temática dos filmes e livros eram diferentes, ou seja, cada um era cada um, nada convergia, mas sentíamos atraídos um pelo outro o que fez que assistíssemos o filme juntos.
Na saída, propus comermos uma pizza na Micheluccio Pizzaria e a pizza foi a única coisa que comi naquela noite. Trocamos número de telefone e combinamos assistirmos outro filme em outra oportunidade.
O tempo foi passando, nenhum dos dois procurou contato, mas ela ainda povoava meus pensamentos e relembrava a nossa conversa do primeiro encontro até que numa sexta-feira recebi uma ligação dela propondo assistirmos ao filme "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", Woody Allen, dizendo que essa comédia poderia ser do gosto de ambos. Foi o início de uma bela amizade, de bons diálogos e muita alegria.
Tivemos alguns encontros casuais, juntos e separados ao mesmo tempo. Se houvesse celular, naquela época, seria mais ou menos isso: Estou no Jockey Club, vim assistir ao Grande Prêmio e você? Estou na Livraria Cultura, na sessão de autógrafos do Jô Soares.
Foram uns 20 encontros, alguns mais íntimos, porém nunca soube mais nada dela, além de um número de telefone que nunca liguei e que morava na Mooca. Voltei para Fartura em 1977, não contei a ela que retornei para não mais voltar. O tempo passou, às vezes lembrava de algum momento que havíamos vivido junto e a alegria da recordação me contagiava. Nunca havíamos falado em sermos namorados ou estreitarmos os laços, não havia obrigação de ligar ou se encontrar, tudo acontecia sem compromissos.
Dias desses, recebi uma mensagem assim: Sou a Rosa, companheira da Mel, estou lhe enviando essa mensagem para lhe comunicar que a Mel faleceu em maio. Ela sempre falava de vocês lembrando alguns momentos de suas vidas, do convívio feliz, nos encontros descompromissados.
Não consegui respostas as mensagens que mandei e muito menos recebi outras mensagens. A Rosa desapareceu. Até parece ser uma personagem fictícia desse mundo virtual. Em sua página não tem fotos, não há nada. Tudo estranho. Será a Rosa a Mel? Não sei.
Restou a saudade da juventude e de um tempo que passou.